TDAH ou Reação ao Ambiente? Entenda o Comportamento do Seu Filho Além dos Sintomas

Muitos pais se preocupam ao notar que seus filhos estão agitados demais, desatentos, impulsivos ou com dificuldade de se concentrar nas atividades do dia a dia. Em geral, a primeira dúvida que surge é: “Será que meu filho tem TDAH?”. Essa pergunta é legítima e, de fato, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um dos diagnósticos mais discutidos na infância e adolescência.


No entanto, o que poucos pais sabem é que nem todo comportamento agitado ou desatento indica um transtorno de neurodesenvolvimento. Em muitos casos, o que parece TDAH pode ser, na verdade, uma resposta do corpo e do cérebro da criança a um ambiente hostil, caótico ou emocionalmente instável. Isso significa que, antes de pensar em diagnóstico, é essencial considerar o contexto em que a criança está inserida.

O que é um ambiente hostil para a criança?

Ambientes hostis não se referem apenas à violência direta ou negligência extrema. Muitas vezes, a hostilidade está nas experiências do dia a dia, como brigas constantes entre os pais, gritos frequentes, desorganização na rotina, excesso de telas, cobrança exagerada por desempenho, ausência de momentos de afeto ou até exposição precoce a conteúdos violentos e assustadores, como filmes de terror ou jogos agressivos.

Esses fatores, quando contínuos, criam um ambiente que o corpo da criança interpreta como ameaçador. O cérebro infantil, que ainda está em formação, não tem os mesmos recursos de autorregulação que um adulto, por isso reage com intensidade ao que percebe como inseguro, confuso ou estressante.

Ou seja, esse tipo de ambiente faz com que o cérebro da criança entre em estado constante de alerta, como se estivesse sempre se preparando para se proteger. E é aí que os comportamentos começam a mudar.

Como o corpo da criança reage ao estresse?

Segundo o Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, existem três formas de resposta ao estresse: o estresse positivo, o tolerável e o tóxico.

  • O estresse positivo é breve e ocorre em situações desafiadoras, como uma apresentação na escola ou o primeiro dia em uma nova turma – momentos que ajudam no desenvolvimento, especialmente quando a criança tem apoio de um adulto cuidador.
  • Já o estresse tolerável ocorre diante de situações mais intensas, como a perda de um familiar ou uma mudança de casa, e pode ser superado se a criança contar com um ambiente estável e protetivo.
  • No entanto, quando o estresse é frequente, intenso e acontece sem suporte emocional consistente, como no caso de exposição contínua a discussões familiares, gritos, falta de rotina e conteúdos inadequados como jogos violentos e filmes de terror, ele é classificado como estresse tóxico.

O estresse tóxico ativa o sistema de alarme do corpo de forma prolongada, elevando continuamente os níveis de cortisol e adrenalina – substâncias que, em excesso, prejudicam o desenvolvimento de áreas importantes do cérebro, como o córtex pré-frontal (responsável pelo controle da atenção e impulsos) e o hipocampo (ligado à memória e aprendizagem).

Ou seja, a criança começa a viver em estado de alerta constante, reagindo com inquietação, distração, impulsividade, irritação ou apatia. Esses comportamentos podem parecer sintomas clássicos de TDAH, mas muitas vezes são respostas adaptativas ao ambiente.

Afinal, o que é TDAH?

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento descrito no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Para ser considerado um transtorno, é necessário que os sintomas estejam presentes antes dos 12 anos de idade, ocorram em mais de um ambiente (casa, escola, outros contextos) e interfiram significativamente na vida da criança.

Os sintomas se dividem em três grupos principais:

  • Desatenção: dificuldade em manter o foco, esquecer tarefas, parecer não ouvir, cometer erros por descuido.
  • Hiperatividade: inquietação motora, necessidade de se movimentar constantemente, fala excessiva.
  • Impulsividade: dificuldade em esperar a vez, interromper conversas ou atividades, agir sem pensar nas consequências.

É importante destacar que nenhum comportamento isolado define o diagnóstico. Crianças podem apresentar esses sinais em momentos de estresse, mudança, imaturidade ou sobrecarga emocional. Por isso, a avaliação psicológica é essencial para entender se há um transtorno ou uma reação contextual.

TDAH e ambiente hostil: podem coexistir?

Sim. Em alguns casos, a criança realmente tem TDAH, mas os sintomas se tornam mais intensos e difíceis de lidar quando o ambiente familiar ou escolar é desorganizado emocionalmente. A falta de estrutura, a rigidez excessiva, a comunicação agressiva ou o excesso de estímulos pode exacerbar as dificuldades que ela já possui.

Um estudo realizado com crianças em idade escolar mostrou que aquelas que vivem em famílias com muitos conflitos, agressões verbais e pouco acolhimento têm muito mais chances de apresentar comportamentos parecidos com os do TDAH. Nessas situações, os sintomas podem surgir ou se intensificar, mesmo que a criança não tenha o transtorno de fato. Isso mostra como o ambiente em que a criança vive influencia diretamente em seu comportamento e desenvolvimento.

Como saber a diferença – TDAH OU uma resposta ao ambiente?

O primeiro passo é observar a rotina da criança com mais atenção e sensibilidade. Pergunte-se:

A partir dessas respostas, é possível perceber se há ajustes possíveis no ambiente familiar que podem ajudar a regular o comportamento da criança. Além disso, buscar orientação de um profissional pode abrir caminhos para entender melhor a situação e tomar decisões com mais segurança e tranquilidade.

É importante destacar que essa diferenciação só pode ser feita com uma escuta clínica cuidadosa e avaliação especializada. O profissional especializado (psicólogo, neuropsicólogo ou psiquiatra) vai considerar o desenvolvimento da criança, suas experiências de vida, as relações familiares, o tipo de rotina que ela tem, além de aplicar instrumentos psicológicos confiáveis e observar padrões de comportamento em diferentes contextos.

Essa avaliação não tem o objetivo de rotular, mas sim de compreender de forma profunda e cuidadosa o que está por trás das atitudes da criança. Em muitos casos, o simples fato de os pais compreenderem melhor as necessidades emocionais do filho e fazerem alguns ajustes na rotina e na convivência familiar já traz alívio significativo.

Afinal, é preciso compreender

Muitos comportamentos desafiadores das crianças são, na verdade, formas de comunicação emocional. Quando os pais interpretam esses sinais com escuta e afeto, ao invés de medo ou culpa, a relação se transforma.

Nem toda criança agitada tem TDAH, e nem todo diagnóstico é definitivo. O ambiente onde a criança cresce tem um papel profundo na formação do seu comportamento, e a avaliação psicológica pode ajudar a separar o que é reação e o que é transtorno.

A boa notícia é que sempre é possível construir um caminho de compreensão, acolhimento e mudança. E esse caminho começa com o desejo de olhar para o comportamento do seu filho não como um problema, mas como um pedido de ajuda e de conexão.

Este artigo fez sentido para você? Quer saber um pouco mais ou experimentar a psicoterapia online?

Agende uma sessão e comece sua jornada de autoconhecimento!

Referências

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Scroll to Top